segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

O vestido



No armário do meu quarto

escondo de tempo e traça

meu vestido estampado em fundo preto.

É de seda macia

desenhada em campânulas vermelhas

à ponta de longas hastes delicadas.

Eu o quis com paixão

e o vesti como um rito,

meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele,

meu sonho, meu corpo ido.

É só tocá-lo,

volatiza-se a memória guardada:

eu estou no cinema e

deixo que segurem minha mão.

De tempo e traça

meu vestido me guarda.



Adélia Prado

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